quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Poesia & Prosa Entrelinhas

Gisele Lemos



Nessa coluna vamos homenagear Manuel Bandeira, Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho, (Recife, 1886, Rio de Janeiro,1968) Poeta, crítico literário e de arteprofessor de literatura tradutor brasileiro. Com o poema “Vou-me embora pra Pasárgada”.





Vi pela primeira vez esse nome de Pasárgada quando tinha os meus dezesseis anos e foi num autor grego. [...] Esse nome de Pasárgada, que significa “campo dos persas”, suscitou na minha imaginação uma paisagem fabulosa, um país de delícias [...]




                                            “Vou-me embora pra Pasárgada”


Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.




Tempo

Em tempo de encontros
Na soleira da janela
a despedida sapateia.
Eh! Vida curta!
O amor se foi, sem pedir a devida licença...
A carta na soleira,
Reclamando a existência!
Não é que o destino, é prosa em anedota
Sem volta
Fechei a porta,
Sem a contemporaneidade