segunda-feira, 5 de setembro de 2016

O golpe do Lewandowski e a traição da Dilma

Mario Eugenio Saturno

Em 31 de agosto, o “impeachment” nos reservou um profundo golpe na Constituição, livrando a impedida da inabilitação. Foi arquitetado pelos aliados petistas e executado pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, aquele que deveria ser o protetor da Constituição, o ministro Ricardo Lewandowski. Alguma surpresa? Claro que não, mas depois do Mensalão, esperava-se que ele tivesse aprendido a lição, ainda mais quando o ministro Joaquim Barbosa acusou Lewandowski de fazer chicana no STF...

Lewandowski estava ali para presidir e seguir os ritos estipulados nove meses antes. Ninguém sequer prestou atenção na proposta da senadora Katia Abreu, pois a Constituição é clara, no artigo 51 no parágrafo único: funcionará como Presidente o do Supremo Tribunal Federal, limitando-se a condenação, que somente será proferida por dois terços dos votos do Senado Federal, à perda do cargo, com inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública.

Claro e transparente, mas Lewandowski é Lewandowski, sem submeter ao plenário, com apoio do presidente do Senado somente, resolveu fatiar o parágrafo único do artigo 51 e de sua vontade e de sua cabeça, propor duas votações. Que Dilma volte, mas que o STF restaure a Constituição.

Na primeira, para encaminhar contra o impedimento, foram escalados os dilmistas raivosos... Perderam feio! O mais incrível aconteceu depois, os escalados para pedir clemência à Dilma não foram os raivosos. Lá veio Katia Abreu (PMDB-TO) com humildade pedir aos colegas que não aplicassem a pena de inabilitação pela sua honestidade e idoneidade. Afirmou que o fatiamento era legal e citou até o livro do Temer. Desculpou- se indiretamente pelos raivosos e apelou à caridade dos senadores informando que a presidente que tem 68 anos de idade e 34 de contribuição, deve aposentar-se com cerca de R$ 5 mil, quantia insuficiente, ou seja, precisa continuar trabalhar e, não disse, mas é óbvio, só o setor público vai contratá-la. Coitadinha!

O senador João Capiberibe (PSB-AP) observou que a Política é uma atividade conciliadora, do pacto, do entendimento. Apesar do embate, os senadores deveriam pensar no amanhã de manhã, estender uma mão à conciliação, que o voto pela manutenção dos direitos políticos de Dilma iria permitir a abertura de uma vereda para conciliação e para o pacto. Sim, isso mesmo, ele pediu a absolvição da Dilma prometendo a conciliação!

Então foi a vez do petista Jorge Viana (AC), que apelou dizendo que ali não era Ouro Preto, não era a Praça de Paris, ou a Torre de Londres. Apelou para a convivência no dia seguinte e, quase foi às lágrimas. Desta vez, o pedido de conciliação veio do PT. E dezenove senadores que cassaram Dilma não a puniram com inabilitação.

Então, pouco depois, veio Dilma fazer sua declaração ao público, agradecida? Conciliadora? Buscando entendimento? Não! Chamou os que votaram pelo impedimento, incluindo aqueles 19, de “políticos que buscam desesperadamente fugir dos braços da Justiça que tomarão o poder, unidos aos derrotados nas últimas quatro eleições, por um golpe. É uma fraude!”

Dilma traiu seus porta-vozes, ou não? Kátia, Capiberibe e Viana mostraram-se os maiores mentirosos e enganadores da história recente da política brasileira e fez de dezenove senadores os maiores trouxas da classe política?

Mario Eugenio Saturno (cienciacuriosa.blog.com) é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano.