quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Poesia, Prosa & Entrelinhas

Gisele Lemos











Hoje citarei Carlos Drummond de Andrade, poeta Brasileiro, contista e cronista em 1928 publicou "No Meio do Caminho" na Revista de Antropofagia de São Paulo, recebendo críticas da imprensa, hoje considerado um dos grandes poetas desse século XX.


NO MEIO DO CAMINHO

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.




O Poema de sete faces mostra a visão da desesperança no mundo, um tanto sério e brincalhão
“Quando nasci, um anjo torto
Desses que vivem na sombra
Disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.”...
Gente

Carlos Drummund de Andrade.

O trabalho e o lazer, suas linhas se cruzam
pelas ruas do Rio, em tácido concerto.
O religioso gesto de juntar pedrinhas
de calçamento é o mesmo de lançar as cartas
no cassino montado em banco de cimento.
Come fogo, este aqui, e a inveja que me causa...
(Quisera imitá-lo, e falta-me a ciência.)
Outro doma o carro, subjugado dragão
por seu frágil poder mecânico prostrado.
Assim o povo mostra a sua dupla face:
labutar é destino? Há que sobrar astúcia
para fazer de tudo uma espécie de sonho.











Caminho
Gisele Lemos
 
O cavalo carrega o lixo do povo subjugado ao descaso
Caminhando entre as calçadas, o Rio é lindo.
Obras, caminhões, buracos e capacetes.
Abastecemos os bueiros com as fumaças na boca do céu
Conversamos com a estátua e usamos o chapéu.
Ondas de um mar verde alga flutuam em esportes radicais.
A tarefa árdua é transformar as favelas.
As civilizações estão cientificamente avantajadas...
Gerações do acaso transformam o turismo em passageiro evento.
O homem do futuro sonha em acordar no presente,
Quando perder o trem.