terça-feira, 27 de setembro de 2016

Poesia, Prosa & Entrelinhas

Gisele Lemos












Mário Quintana, é o nosso poeta homenageado dessa semana, trazemos para sua apreciaçäo leitor  algumas poesias retiradas da Coleçäo L&PM Pocket e do livro






 “Mario Quintana - Poesia Completa”, Editora Nova Aguilar.







A sua definiçäo pessoal , escrita por ele mesmo:  “Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! Eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão. Nasci no rigor do inverno, temperatura: 1 grau; e ainda por cima prematuramente, o que me deixava meio complexado, pois achava que não estava pronto. Até que um dia descobri que alguém tão completo como Winston Churchill nascera prematuro — o mesmo tendo acontecido a sir Isaac Newton! Excusez du peu… Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que acho que nunca escrevi algo à minha altura. Porque poesia é insatisfação, um anseio de auto-superação. Um poeta satisfeito não satisfaz. Dizem que sou tímido. Nada disso! Sou é caladão, introspectivo. Não sei porque sujeitam os introvertidos a tratamentos. Só por não poderem ser chatos como os outros? Exatamente por execrar a chatice, a longuidão, é que eu adoro a síntese…." Faleceu em Porto Alegre, Rio Grande do Sul em 5/5/ 1994.

A Verdadeira Arte de Amar

Mário Quintana

A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa,
Como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo.
Não importa que os compromissos, as obrigações, estejam ali…
Chegamos de muito longe,de alma aberta e o coração cantando!


Das Utopias

Mário Quintana

Se as coisas são inatingíveis… ora!
Não é motivo para não querê-las…
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!


Esperança

Mário Quintana

Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...










Pintura de Marek Langowski














Vestida de amor
Gisele Lemos

O fio de navalha corta-lhe o rosto
Em pé, de chinelo velho, vistoria as histórias.
Os cabelos tingidos ao fundo numa ilusão retórica
Distrai a rede que balança e em nada avança.
Cai no chão os óculos em imagem inóspita.
O vento balança as esperas
Hoje saio vestida de amor.