quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Poesia, Prosa & Entrelinhas

Gisele Lemos


Orvalho 
Cai a noite e todos aguardam as mudanças  do clima
Apagada a vela da espera. 
Republicanos vencem lá!
Tremem por aqui os leves encalços…
 
Suar a camisa da seleção brasileira,
Dormem em escolas os sem educação e cultura pela
PEC
A vida segue repleta de impostos e impactos. 
Paguem as contas e já dorme o neném. 
Amanhã virá outro Porto Maravilha.
O orvalho vem caindo…



Hoje vamos falar de escolhas, as definidas pelos outros, ou por nós. 
Para isso vou homenagear a escritora, poeta, romancista, jornalista e cronista,
Rachel de Queiroz, (Fortaleza, 1910, Rio de Janeiro, 2003).

Autora de ficção social nordestina e a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras, 1977. Com uma biografia extensa posso dizer que conheceu o Brasil de norte ao sudeste, e no mundo, chegou a representar  o Brasil, participou da 21ª Sessão da Assembléia Geral da ONU, em 1966,trabalhando especialmente na Comissão dos Direitos do Homem. Uma mulher a frente de seu tempo.






Aos vinte anos, publicou O Quinze,1927, romance que mostra a luta do povo nordestino contra a seca e a miséria. Demonstrando preocupação com as questões sociais e habilidade na análise psicológica de personagens.
 



Como escritora consagrada, muda-se para o Rio de Janeiro no ano que foi agraciada com o Prêmio Felipe d'Oliveira pelo livro As Três Marias. 
 

Escreveu ainda João Miguel (1932), Caminhos de Pedras (1937) e O Galo de Ouro (1950).  Durante trinta anos escreveu crônicas para a revista semanal  O Cruzeiro e com o fim desta para o jornal O Estado de São Paulo.

Frases de Rachel de Queiroz

“Fala-se muito na crueldade e na bruteza do homem medievo. Mas o homem moderno será melhor? ” 





“Eu nunca fui uma moça bem-comportada. Pudera, nunca tive vocação pra alegria tímida, pra paixão sem orgasmos múltiplos ou pro amor mal resolvido sem soluços. Eu quero da vida o que ela tem de cru e de belo. Não estou aqui pra que gostem de mim. Estou aqui pra aprender a gostar de cada detalhe que tenho.” 

 





Geometria dos ventos

Rachel de Queiroz

Eis que temos aqui a Poesia,
a grande Poesia.
Que não oferece signos
nem linguagem específica, não respeita
sequer os limites do idioma. Ela flui, como um rio.
como o sangue nas artérias,
tão espontânea que nem se sabe como foi escrita.
E ao mesmo tempo tão elaborada -
feito uma flor na sua perfeição minuciosa,
um cristal que se arranca da terra
já dentro da geometria impecável
da sua lapidação.
Onde se conta uma história,
onde se vive um delírio; onde a condição humana exacerba,
até à fronteira da loucura,
junto com Vincent e os seus girassóis de fogo,
à sombra de Eva Braun, envolta no mistério ao mesmo tempo
fácil e insolúvel da sua tragédia.
Sim, é o encontro com a Poesia.

(Poesia feita em homenagem ao poema Geometrida dos Ventos de Álvaro Pacheco)