A
contestação mais comumente feita a quem denuncia os erros e maldições do
ideário comunista é a de que o comunismo morreu. E se morreu, seu ridículo adversário
é um Dom Quixote com neurônios de Sancho Pança, avançando contra algo que não
existe mais.
Eu mesmo
imaginei, em 1989, com a queda do Muro, que a desgraçada trajetória das
experiências com o comunismo real, somada ao piedoso e exitoso trabalho
diplomático e pastoral de S. João Paulo II, houvesse produzido a completa
paralisia das funções vitais de uma doutrina que nunca foi funcional. Tal
ilusão durou pouco mais de um ano. Enquanto a maior parte dos velhos Partidos
Comunistas no Leste Europeu fechava as portas e outros, mundo afora, mudavam a
razão social para não perder freguesia, aqui no Brasil eles se mantinham vivos
e foram dando cria. O primeiro motivo para a não expedição do atestado de óbito
é proporcionado pela existência, entre nós, ainda hoje, de nove partidos,
registrados no TSE, que têm o comunismo no nome de família ou nas posições
políticas. Não sei de outro país onde existam tantos partidos com esse
alinhamento.
Após a
Segunda Guerra Mundial, houve uma transmutação. O operário industrial, que o
marxismo via como protagonista da revolução, começou a ganhar dinheiro e mandou
a ideologia às favas, fazendo com que a militância revolucionária se deslocasse
para os operários do imaterial, do conhecimento, com atuação no campo da cultura,
vale dizer, muito prioritariamente, para a universidade. Não fosse assim, onde
iriam tantos professores buscar para si o título de "trabalhadores em
Educação"? Aqui, o nome determina a função e o ensinado se subordina à
causa.
Esse
projeto andava muito bem no Brasil. Não foi por mero acaso que o Muro de Berlim
caiu e o PT fazia nascer nestas bandas o Foro de São Paulo, em comunhão de
corações e mentes com Fidel Castro. Por esse caminho, chegou ao poder e não
preciso contar o resto dessa específica história. O projeto de tomada da
hegemonia através da cultura e do meio acadêmico, porém, foi rompido pelo
surgimento da Internet e pela incontrolável propagação das redes sociais,
difundindo o que deveria permanecer oculto, disponibilizando o que era para ser
contido: o saber filosófico dos grandes autores liberais e conservadores, não
marxistas. Estou tratando disso em maior detalhe noutro artigo desta semana,
especial para Zero Hora.
O que
importa, aqui, é conhecer a diferença entre esquerda democrática e esquerda não
democrática, comunista, porque ela permitirá saber como andam as funções vitais
dessa doutrina e do respectivo movimento revolucionário, que se fazem passar
por mortos para ganharem sapatos novos. Trata-se de algo muito simples, que
funciona como o retratinho na carteira de identidade. Qual a posição desses
"trabalhadores do imaterial" (para dizer como Negri) e dos dirigentes
políticos desses partidos que trocam, em suas siglas, o C (de comunista) por um
impreciso S (de socialista), sobre assuntos como:
· regimes totalitários de esquerda, atuais ou passados?
· Luís Carlos Prestes, Carlos Marighella, Carlos
Lamarca?
· Fidel Castro, Che Guevara, Hugo Chávez?
· os regimes bolivarianos e Nicolás Maduro?
· Foro de São Paulo?
· Paulo Freire?
· - entre outros temas cruciais -
"controle social da mídia", conselhos populares, invasão de terras?
Submeta
os partidos políticos e suas lideranças, formadores de opinião e profissionais
da educação ao teste das respostas cabais ou facilmente presumíveis a essas
questões e você verá quem se faz de morto para ganhar sapato novo.
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* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.