terça-feira, 11 de abril de 2017

NA NOSSA GERAÇÃO, JOSÉ MAYER, ISSO TERMINAVA EM SOPAPO

Percival Puggina
 
 
"Tristemente, sou sim fruto de uma geração que aprendeu, erradamente, que atitudes machistas, invasivas e abusivas podem ser disfarçadas de brincadeiras ou piadas. Não podem. Não são. Aprendi nos últimos dias o que levei 60 anos sem aprender. O mundo mudou. E isso é bom. Eu preciso e quero mudar junto com ele." (Extraído do longo pedido de desculpas do ator José Mayer após sua agressão a uma figurinista da TV Globo).
                                                                                                                                                               Foto: purepeople
 
         Lendo atentamente, percebe-se que o documento do qual extraí o pequeno trecho acima tem uma eloquência demasiada. Dá impressão de que o redator, notando  o péssimo efeito colateral de sua desastrosa investida, quis penitenciar-se plenamente, às antigas. Foi do oitenta do desrespeito ao oitenta da contrição. Sua mensagem, urbe et orbi, preenche todos os requisitos formais. Mas...
         Mas foi além da conta. Incorreu no que, em juridiquês, se chama extra petita, extrapolou o pedido, buscando remissão e indulgência plenária a toda uma geração de brasileiros, que, na forma da transcrição acima, o teria educado para atitudes machistas, invasivas e abusivas.
 
         Aí não, José Mayer! Você não tem autoridade para falar em nome de uma geração que é também a minha, onde esse tipo de coisa terminava, inevitavelmente, em sopapo, exatamente por não ser tolerada. Sempre havia um amigo, um namorado, um colega, um irmão para aplicar ao abusado o devido corretivo. Em tais eventualidades, a natural reação masculina era de repulsa e de proteção à mulher agredida.
         Portanto, senhor José Mayer, fale por si. Faça sua catarse, mas não use esse estratagema rasteiro de distribuir suas culpas pessoais e seus desvios de conduta sobre os ombros de uma inteira geração de brasileiros que nada têm a ver com elas, exceto para expressar repúdio e indignação.
         Ademais, e finalizando, um homem de 67 anos, designado ao papel de galã de novela, deveria ter discernimento e saber o que é personagem e o que é vida real, para atuar bem no primeiro caso e não ser ridículo no segundo. Aliás, melhor ainda seria se José Mayer parasse de bancar galã da novela das oito e se assumisse como zeloso cuidador de netinho na novela das seis.
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* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.