STF E GLOBO,
VILÕES NACIONAIS
Percival Puggina
Não
hesito em afirmar que STF e Globo disputam o primeiro lugar, tanto num concurso
de presunção e arrogância quanto num de antipatia, sendo igualmente rejeitados
pela direita e pela esquerda.
O Grupo Globo, aqui denominado
simplesmente “a Globo”, é rejeitado pela esquerda porque esse segmento político
nutre inimizade por qualquer poder que não esteja totalmente subordinado a seus
interesses. Vem daí a insistência do discurso petista em favor da “regulação da
mídia”. O conhecido blog esquerdista Brasil 247 em matéria do dia 8 de janeiro
deste ano publicou extenso artigo deixando bem clara, desde o título, a
importância do tema: “Sem regulação da mídia, não tem saída para a esquerda”.
Blogs de igual orientação, aliás, atacam comumente a Globo acusando-a de
golpista em virtude da divulgação que fez dos achados da Lava Jato, da miserável
ditadura venezuelana, das relações escusas do governo petista com ditaduras de
esquerda na Ibero América e na África Subsaariana. Como para o PT tudo que pesa
contra ele é falso, os petistas desejariam que tais matérias não fossem
divulgadas ou, sendo, que o sejam apenas aos insones das altas madrugadas. Daí
o ódio ... oops – ódio não porque os petistas não odeiam – dedicado à Globo.
Para eles, escandalosa não é a corrupção, mas a notícia sobre a corrupção.
Por outro lado, do centro para a direita
do leque de abano ideológico, espaço onde estão os conservadores, a Globo é
rejeitada tanto em virtude do combate frontal e deletério que dela recebem os
valores morais sedimentados na nossa tradição, quanto pelo seu apoio às pautas
e causas da esquerda. A essas duas tarefas, inequivocamente, se dedica imensa
maioria de seus programas, novelas e atores, jornalistas e comentaristas
sistematicamente recrutados para manifestações de apoio político ao partido da
estrela e seus cognatos ideológicos. As brilhantes exceções são cada vez mais
raras. A posição esquerdista da Globo ficou evidenciada no editorial em que o
direção do grupo de empresas se desculpou pelo apoio dado à contrarrevolução de
1964.
Com o STF ocorre algo muito parecido.
Nosso Supremo é rejeitado pela esquerda e pela direita. Aquela o detesta pela
legitimação constitucional que deu ao processo de impeachment de Dilma Rousseff
(malgrado a “mãozinha” final proporcionada por Lewandowski) e, principalmente,
pelas “traições” de alguns ministros indicados pelo partido no julgamento de
ações penais contra petistas, desde o caso mensalão. Há algumas semanas li,
alhures, entrevista em que José Dirceu, referindo-se a isso, afirmou que as
indicações para o STF durante os governos petistas foram extremamente rigorosas
sob o ponto de vista da afinidade ideológica.
No entanto, digo eu, em juízo criminal colegiado é muito difícil para um
magistrado votar contra abundantes provas contidas nos autos que todos leram.
Daí a diferença de conduta: o PT tem ampla base de apoio dentro do STF, aprova
as pautas petistas que lá chegam e isso lhe causa o repúdio de quem não é de
esquerda, mas na hora da ação penal, onde não há alternativa de prescrição ou
nulidade viável, não havendo alternativa, condena. Como a defesa intransigente
dos próprios criminosos é uma particularidade esquerdista, as demais
condenações pluripartidárias só causam desconforto aos sentenciados.
Logo ali adiante, porém, o STF costuma
resolver boa parte desses débitos soltando presos provisórios e condenados com
uma liberalidade que restabelece a necessária impunidade sem a qual se corre o
risco de acabar com a cadeia produtiva do crime. E aí, claro, a direita estrila.
Como se vê, STF e Globo são dois grandes
vilões nacionais pelos motivos certos e, também, pelos errados, o que não deixa
de ser um feito.
* Percival Puggina (73), membro da Academia
Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org,
colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o
totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do
Brasil. integrante do grupo Pensar+.