terça-feira, 11 de dezembro de 2018

De Olho Na Cidade


Clínicas denunciam situação e ameaçam encerrar atividades pela falta de recursos. Cenário é agravado pela batalha para equiparar custo do tratamento

O descaso é nacional, mas em municípios do estado do Rio de Janeiro a situação é ainda mais crítica. As clínicas de diálise que prestam serviço ao SUS oferecendo tratamento de terapia renal substitutiva para filtrar artificialmente o sangue vêm enfrentando grande dificuldade devido à falta de repasse do valor das sessões de hemodiálise – questão que ameaça o tratamento de milhares de pacientes renais. Segundo clínicas de São Gonçalo e Belford Roxo, graças à movimentação da imprensa nas últimas semanas, as competências de agosto e setembro foram pagas no final de novembro. Porém, este dinheiro ainda não é o suficiente, uma vez que as dívidas dos meses de outubro e novembro ainda não foram sanadas.

Além disso, o atraso dos repasses se repete anualmente, principalmente quando o final do ano se aproxima. As competências de outubro e novembro de 2016 de ambos os municípios, por exemplo, nunca foram pagas e acumulam com supostos repasses “atuais”. “Já tentamos de todas as formas cobrar esse valor atrasado, mas a prefeitura ignora a situação e acreditamos que trata-se de um caso a ser resolvido na justiça”, detalha Sérgio Sloboda, diretor regional da ABCDT e responsável pela clínica Renalford, em Belford Roxo.

Sérgio explica que a situação se arrasta sem qualquer justificativa por parte da prefeitura: “É muito difícil, pois ficamos na mão e não temos para a quem correr. Nós, clínicas que prestam serviços ao SUS, nos comprometemos com a vida de inúmeros pacientes e não queremos deixá-los na mão. Porém, sem os repasses em dia, acumulamos dívidas e empréstimos para tentar suprir a ausência de suporte financeiro que nos é prometido por lei.”

Outra questão que deve ser levada em consideração é o fato de o valor pago pelo Ministério da Saúde estar abaixo do custo real e não acompanhar a cotação do mercado. Grande parte dos insumos, como produtos e maquinários são importados, além de gastos com dissídios trabalhistas, folha de pagamento, água, energia e impostos. Com todas essas despesas, a grave diferença de valor e a falta de repasse, muitas clínicas ameaçam encerrar suas atividades pela falta de recursos para compra de insumos para o atendimento aos pacientes.

Yussif Ali Mere Júnior, presidente da Associação Brasileira dos Centros de Diálise e Transplante (ABCDT), alerta que a principal preocupação está ligada à menor oferta de tratamento à população:A realidade que estamos vivendo na diálise é absolutamente incompatível com o sucesso do tratamento”.