segunda-feira, 18 de maio de 2020

CONFORTO AMBIENTAL - Ana Seroa

 CONFORTO AMBIENTAL
 Ana Seroa

CONSTRUÇÕES SUSTENTÁVEIS


















Arquitetura sustentável é a forma de construir edifícios que busca minimizar o impacto ambiental negativo através de técnicas que visam eficiência e redução no uso de materiais e energia não renováveis, respeitando os ecossistemas e, ao mesmo tempo, promovendo a saúde e o bem estar dos seus ocupantes. 

Nessa coluna, que hoje se inicia, vamos apresentar soluções e tecnologias arquitetônicas que buscam atender às demandas sociais atuais, mas com um foco especial na realidade dos leitores deste prestigiado jornal. Entretanto, em um mundo amplamente urbano e interconectado como o de hoje, não se pode ignorar os surtos de doenças infecciosas e outras emergências de saúde pública que acabam representando uma ameaça real para todas as grandes cidades. Uma das consequências mais presentes do surto de Covid-19, que hoje vivenciamos, é o isolamento social. Agora passamos mais tempo em nossas residências.

Consequentemente, novas configurações dos espaços se tornam necessárias e o desejo de mudar nossa relação com o lar se tornou imprescindível. É preciso utilizar os espaços com mais criatividade e o projeto sustentável pode indicar soluções. No artigo de hoje, vamos apresentar o conceito de horta urbana. O ordenamento urbano atual se baseia no “FIQUE EM CASA”, logo sobra tempo e faltam atividades produtivas para preencher os períodos ociosos que nos foram impostos pela pandemia contemporânea. 

Como a maior preocupação é com a saúde, plantar alimentos orgânicos aproveitando espaços ociosos é uma maneira ecológica de se reconfigurar arquitetonicamente as residências, adequando-as as nossas necessidades de isolamento, alimentação mais saudável, entretenimento e lazer. Outra vantagem dessa técnica é que a horta urbana também serve como purificador de ar natural, pois elimina odores desagradáveis. Para criar sua horta urbana será necessário escolher um espaço. Se possuir uma área com solo (terra) será ideal.

Caso não exista esse espaço disponível, é possível fazer sua horta urbana em vasos ou suportes colocados em pequenos espaços, que podem, inclusive, ser verticais. Outra opção é o cultivo de alimentos utilizando a horta hidropônica manual ou automatizada. Nesse caso, cabe lembrar que já existe tecnologia disponível no mercado para permitir o cultivo de hortas hidropônicas instaladas em varandas ou cozinhas de apartamentos. Com elas, não é preciso se preocupar com pesticidas ou fertilizantes. 

O fornecimento de água, luz e nutrientes é controlável, assim como se pode decidir a velocidade de crescimento das plantas. Embora essa tecnologia ainda apresente um custo e um consumo de energia elevados em relação à horta convencional, ela se apresenta como uma solução para produzir alimentos em casa. Outro ponto essencial trata da incidência de sol no local que abrigará a horta. Os raios solares devem alcançá-la, pelo menos, uma parte do dia. Claro que uma fonte de água próxima, para facilitar a manutenção, pode ser muito útil. Se você optou por um espaço com solo disponível, deve verificar a sua fertilidade. 

Se no local já existir qualquer tipo de vegetação, é muito provável que ele tenha potencial fértil. Todavia, é indicado enriquecê-lo. Para isso, use adubos orgânicos. Agora uma dica importante: em arquitetura valorizamos o que é simétrico e padronizado. Mas, no caso da horta urbana, torna-se ideal que diferentes tipos de vegetais sejam plantados em conjunto, de acordo com sua função, formando um mix de cultivos e não uma monocultura. Outra dica importante para não desgastar o solo, os cultivos devem ser alternados. 

Não há nada de particularmente novo nesta proposta considerando que existem relatos de jardins suspensos que integram a arquitetura de palácios desde os tempos do rei neobabilônico Nabucodonosor II (605/562 a. C.). Contemporaneamente, cabe esclarecer que a arquitetura vem passando por sucessivas ondas de recessão econômica, por exemplo, no início dos anos 80, início dos anos 90, início dos anos 2000. Mas a crise atual atacou um ponto diferente, a sobrevivência à pandemia. 

Nela, as condições de austeridade são ampliadas e a arquitetura tenta desesperadamente reinventar os espaços para permitir maior qualidade de vida à população. Não é de surpreender, portanto, que outra reação ao isolamento contemporâneo seja o esforço para escapar de velhos modelos construtivos, para se refugiar no reino mais rarefeito da independência e autoprodutividade. Esse é o caminho da arquitetura presente que surge e se torna um meio de revalidar a própria essência do projeto residencial. 

No próximo artigo vamos falar sobre como projetar o descarte do lixo residencial permitindo a compostagem dos itens orgânicos. 

 Ana Seroa - Arquiteta, Professora Universitária e Escritora.